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José Antônio Martinuzzo

José Antônio Martinuzzo

Colunista

Pós Doutor em Psicanálise, doutor em Comunicação e professor titular da Ufes

Da mania de nostalgia, alienações ao ado

Confira a coluna de domingo (18)

José Antonio Martinuzzo, colunista do jornal A Tribuna | 19/05/2025, 13:18 h | Atualizado em 19/05/2025, 13:18

Imagem ilustrativa da imagem Da mania de nostalgia, alienações ao ado
José Antonio Martinuzzo é pós-doutor em Psicanálise (UERJ), doutor em Comunicação (UFF) e professor titular da Ufes |  Foto: Acervo pessoal

A solução para o presente e a saída para o futuro têm sido recorrentemente a volta ao ado. Retoricamente expurgado de suas dores e malefícios, o vivido se torna referência para o agora e o porvir.

Do escapismo subjetivo ao discurso extremista, ando por retrôs mercadológicos os mais diversos, a vida pretérita tem experimentado um intrigante brilho na atualidade.

O saudosismo vem se tornando âncora de sujeitos temerosos com o hoje, assim como sustenta narrativas agregadoras de massas desnorteadas em busca de rumo. Em ambos os casos, o jogo da ilusão do retorno a um Éden ficcional oferece sensação de segurança e percepção de amparo em meio a uma inaudita liquidez da realidade.

Nessa toada, não raramente busca-se retrilhar rotas já cumpridas, como se fosse possível dar os no chão do pretérito, e ignorando-se que a vida, assim como o tempo, só anda para frente.

É a segurança do conhecido ante a angústia do incerto, radicalizando uma marca do humano, como poetizou Pessoa: “Eu amo tudo o que foi, / Tudo o que já não é, / a dor que já não me dói, / a antiga e errônea fé, / O ontem que dor deixou, / O que deixou alegria / só porque foi, e voou / E hoje é já outro dia”.

Não se trata de rechaçar os legados que nos trouxeram até aqui e que também ajudam a explicar o que somos. Mas trata-se de se evitar uma alienação psicológica que nos impede de ver o presente como a única dimensão que temos para viver de verdade, como bem mostrou Santo Agostinho. Ademais, essa mania de nostalgia nem sempre se fomenta com objetivos libertadores ou emancipatórios.

Resultado da operação de lembrar e esquecer, memória é identidade em ato, fator de diferenciação entre sujeitos e também comunidades. Mas esse processo de identificações, intrínseco à espécie, é também campo largo para manipulações. A oferta de narrativas de origem comum e distintiva sustenta discursos baseados no “narcisismo das pequenas diferenças”, como observou Freud, com efeitos nefastos do “nós contra eles”, como o nazifascismo.

Dessa mesma fonte, há os discursos que, em vez de projetar novos horizontes, miram no farol do ado – reconfigurado – como lastro do que pode ser, porque, prometem, assim já teria sido. É o embuste de manipulação massiva com a promessa do ado redentor do hoje e do amanhã. “Eu vejo o futuro repetir o ado”, antecipou Cazuza, para tudo ficar na mesma, em benefício dos mesmos.

Como bem disse Paul Valéry, “só existe uma coisa: refazer-se. Não é simples”. Ao que problematiza: “Que importa aquilo que fomos! A glória adquirida insulta o presente, atormenta-o e avilta-o. [...] Ela canta aquilo que perdemos, aquilo que temos de morto”. “As boas memórias são joias perdidas”, conclui.

Que sejamos capazes de seguir o tempo, que só enxerga horizonte. Que, diante da finitude, evitemos ser o futuro do ado, e invistamos tudo em sermos o futuro do presente – um presente de liberdade, desejo e coragem para inventar e reinventar a vida.

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